quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Cino

Arre! Já celebrei mulheres em três cidades,
Mas é tudo a mesma coisa;
E cantarei ao sol.

Lábios, palavras, e lhes armamos armadilhas,
Sonhos, palavras, e são como jóias,
Estranhos bruxedos de velha divindade,
Corvos, noites, carícia:
E eis que não o são;
Já se tornaram almas de canção.

Olhos, sonhos, lábios, e a noite vai-se.
Em plena estrada, uma vez mais,
Elas não são.
Esquecidas, em suas torres, de nossa toada,
Uma vez por causa do vento, da revoada
Sonham rumo de nós e
Suspirando dizem, "Ah, se Cino,
Apaixonado Cino, o de olhos enrugados,
Alegre Cino, de riso rápido.
Cino ousado, Cino zombeteiro,
Frágil Cino, o mais forte de seu clã bandoleiro
Que bate as velhas vias sob o sol,
Se Cino do alaúde aqui voltasse!"

Uma vez, duas vezes, um ano -
E vagamente assim se exprimem:
"Cino ?" "Oh, eh, Cino Polnesi
O cantor, não é dele que se trata ?"
"Ah, sim, passou uma vez por aqui,
Sujeito atrevido, mas...
(São todos a mesma coisa, esses vagabundos)
Peste! As canções eram dele ?
Ou cantava as dos outros ?
Mas e o senhor, Meu Senhor, como vai sua cidade ?"

Mas e senhor, "Meu Senhor", bá! por piedade!
E todos os que eu conhecia estavam fora, Meu Senhor, e tu
Eras Cino-Sem-Terra, tal como eu sou,
O Sinistro.

Já celebrei mulheres em três cidades.
Mas é tudo a mesma coisa.
E cantarei do sol.
...eh?... a maioria delas tinha olhos cinzentos,
Mas é tudo a mesma coisa, e cantarei do sol.

"Pollo Phoibeu, panela velha, tu,
Glória da égide do Zeus do dia,
Escudo d'azul aço, o céu lá em cima
Tem por chefe tua rútila alegria!

Pollo Phoibeu, ao longo do caminho,
Faze do teu riso nossa chanson;
Que teu fulgor ofusque nossa dor,
E que o choro da chuva tombe sem som!

Buscando sempre o rastro recente
Rumo aos jardins do sol...
..............................................
Já celebrei mulheres em três cidades
Mas é tudo a mesma coisa.

E cantarei das aves alvas
Nas águas azuis do céu,
As nuvens, o borrifo de seu mar.

Ezra Pound
(tradução de Mário Faustino)

Cino

Bah! I have sung women in three cities,
But it is all the same;
And I will sing of the sun.

Lips, words, and you snare them,
Dreams, words, and they are as jewels,
Strange spells of old deity,
Ravens, nights, allurement:
And they are not;
Having become the souls of song.

Eyes, dreams, lips, and the night goes.
Being upon the road once more,
They are not.
Forgetful in their towers of our tuneing
Once for wind-runeing
They dream us-toward and
Sighing, say, "Would Cino,
Passionate Cino, of the wrinkling eyes,
Gay Cino, of quick laughter,
Cino, of the dare, the jibe.
Frail Cino, strongest of his tribe
That tramp old ways beneath the sun-light,
Would Cino of the Luth were here!"

Once, twice a year---
Vaguely thus word they:

"Cino?" "Oh, eh, Cino Polnesi
The singer is't you mean?"
"Ah yes, passed once our way,
A saucy fellow, but . . .
(Oh they are all one these vagabonds),
Peste! 'tis his own songs?
Or some other's that he sings?
But *you*, My Lord, how with your city?"

My you "My Lord," God's pity!
And all I knew were out, My Lord, you
Were Lack-land Cino, e'en as I am,
O Sinistro.

I have sung women in three cities.
But it is all one.
I will sing of the sun.
. . . eh? . . . they mostly had grey eyes,
But it is all one, I will sing of the sun.

"'Pollo Phoibee, old tin pan, you
Glory to Zeus' aegis-day,
Shield o' steel-blue, th' heaven o'er us
Hath for boss thy lustre gay!

'Pollo Phoibee, to our way-fare
Make thy laugh our wander-lied;
Bid thy 'flugence bear away care.
Cloud and rain-tears pass they fleet!

Seeking e'er the new-laid rast-way
To the gardens of the sun . . .

* * *

I have sung women in theree cities
But it is all one.
I will sing of the white birds
In the blue waters of heaven,
The clouds that are spray to its sea."

Ezra Pound

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