domingo, 25 de agosto de 2013

Já está conosco a chuva

Já está conosco a chuva,
sacode o ar silencioso.
As andorinhas riscam as águas paradas
junto às lagoas lombardas,
voam como gaivotas catando peixes;
o feno cheira além do espaço das hortas.

Ainda um ano queimado,
sem um lamento, sem um grito
que inesperadamente vença um dia.


Già la pioggia è con noi,
scuote l’aria silenziosa.
Le rondini sfiorano le acque spente
presso i laghetti lombardi,
volano come gabbiani sui piccoli pesci;
il fieno odora oltre i recinti degli orti.

Ancora un anno è bruciato,
senza un lamento, senza un grido
levato a vincere d’improvviso un giorno.

QUASIMODO, Salvatore. Poesias. Edição bilingue. Seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti. Rio de Janeiro: Record, 1999.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Para atravessar contigo o deserto do mundo

Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento

Sophia de Mello Breyner Andresen