segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O POEMA

Tudo está
no som. Uma toada.
Raramente uma canção. Devia

ser uma canção — feita de
minúcias, vespas,
uma genciana — algo
imediato, tesoura

aberta, olhos
de uma dama — despertando
centrífuga, centrípeta.

William Carlos Williams
(Tradução de José Paulo Paes)

The Poem

It's all in
the sound. A song
Seldom a song. It should

be a song—made of
particulars, wasps,
a gentian—something
immediate, open

scissors, a lady's
eyes—waking
centrifugal, centripetal

William Carlos Williams

domingo, 30 de agosto de 2009

Triunfo da morte

Triunfo da morte

Francesco Petrarca
(tradução de Luís Vaz de Camões)

Aquela bela dama e gloriosa,
Que hoje é nu ’spírito e pouca terra,
E foi alta coluna e valorosa;
Tornava com grande honra de sua guerra,
Deixando já vencido o grande inimigo,
Que com seu doce fogo o mundo aterra.
Não com mais armas que respeito altivo,
Honestidade em rosto e pensamento,
Coração casto e de virtude amigo.
Grande espanto era ver tal vencimento,
As armas d’amor rotas e desfeitas,
E os vencidos dele em mor tormento.
A bela dama e as outras eleitas
Se vinham gloriando da vitória,
Em bela esquadra juntas e restreitas.
Poucas eram, que rara é vera glória,
Mas dinas, da primeira à derradeira,
De claríssimo poema e de história.
Traziam, por insígnia, na bandeira
Em campo verde um branco armelino
D’ouro fino, e topazes a coleira.
Não humano, certamente, mas divino
Era o seu doce andar, e o que diziam:
Ditosa é a que nasce a tal destino.
Estrelas e sol em meio pareciam,
Em cujo resplendor o seu consiste;
De rosas coroadas todas iam.
Como nobre coração que honra aquiste,
Cada uma em sua virtude se alegra,
Quando outra insígnia vi escura e triste,
E uma fera dona em veste negra.
Com tal furor, qual eu não sei se atrás,
No tempo dos gigantes fosse em Flegra.
Chamou, e disse: donzela, tu que vás
De beleza e virtude alterada,
De tua vida o termo não saberás?
Eu sou a importuna acelerada,
Chamada de vós, gente surda e cega,
A quem morte vem antecipada.
Eu sou a que matei a gente grega
E troiana, e no último os romãos,
Que todos minha foice corta e cega.
Não deixo povos gentios nem cristãos,
Chego quando por mim menos se espera,
Atalho mil pensamentos, todos vãos.
E a vós, quando mais ledo o viver era,
Endereço meu curso, antes que a fortuna
Misture em vossa doce a sua fera.
Já nestas tu não tens razão alguma,
E em mim pouca, que em minha morte,
Respondeu a que no mundo foi uma,
Outrem sei a quem mais dura é a sorte,
Cuja vida do meu viver depende,
Que o morrer, quanto a mim, será deporte.
Qual é quem grave coisa e nova entende,
Ou vê o que no princípio não lembrou,
E ora se maravilha, ora resprende.
Tal foi a cruel; e depois que cuidou
Um pouco em si, disse: bem conheço eu
Se dá o meu golpe em cheio ou se errou.
Depois, com melhor semblante e menos seu
Disse: tu que a fremosa esquadra guias,
Inda não experimentaste o tosco meu.
Mas, se de meu conselho algo te fias,
Que forçar te posso: por melhor se tem
Fugir velhice e os seus tristes dias.
Eu sou disposta a te fazer um bem
Que não costumo; e é que tua alma vá
Sem aquele medo e dor que a morte tem.
Como apraz ao Senhor, que em cima está,
E rege o céu, e a terra, e o abisso,
Farás de mim o que dos outros será.
Em respondendo assi, eis d’improviso
De mortos se cobriu toda a campanha,
De multidão que excede o humano siso.
A índia, o Cataio, África e Espanha,
Tudo estava coberto até os extremos
Daquela infinita turba manha.
Entre eles, os que por felices temos,
Pontífices, e reis, e imperadores,
Que ora são nus e pobres, como vemos.
Que foi de suas riquezas e primores?
Dos ceptros e vestiduras reais?
Das mitras e das purpúreas cores?
Triste o que a esperança põe em bens mortais!
Mas quem a não põe? Que se depois se achar
Enganado, o remédio é por demais.
Ó cegos que aproveita o afadigar?
Que logo vos tornais à madre antiga,
E muito pouco o vosso nome há-de durar.
E se alguma há, entre vós, útil fadiga,
Ou se são todas puras vaidades,
Qual mais souber de vós esse mo diga.
Que val ganhardes reinos e cidades,
Fazerdes tributárias muitas gentes,
Forçardes nações livres e vontades?
Que achais nessas vitórias eminentes?
Trocar sangue por terra e por tesouro?
Melhor sabe na paz aos prudentes
O pão e água no pau, que a vós no ouro.
Mas por não prosseguir tão longo tema
Acabarei, e a meu lavor me torno.
E digo que já era na hora extrema
Aquela breve vida gloriosa,
No passo em que nenhum há que não trema.
Com ela estava outra valerosa
Companhia de donas, que esperava
Saber se alguma morte há piedosa.
Atentas eram quantas ali estavam
A contemplar o fim que ela fazia,
Que tal convém fazer aos que acabam.
Estando assi a nobre companhia,
Da loura cabeça, morte lhe cortou,
A trança que seus cabelos tecia.
Assi do mundo a mais bela flor levou,
Não por ódio, mas por mais cedo mostrar
Que para reinar na glória se criou.
Tristes prantos e querelas ouvi dar,
Sendo os seus belos olhos já enxutos,
De cujo nome me soía abrasar.
Entre gritos e lágrimas e lutos
Estava ela só leda e calada,
De seu casto viver colhendo os frutos.
Vai-te em paz, alma bem-aventurada,
Diziam, e era assi; mas nada val
Contra a morte cruel e acelerada.
Que será de nós? Pois esta que era tal
Ardeu em tão breve tempo e acabou
falsa e cega esperança humanall
Se de lágrimas a terra se banhou,
Com piedade daquela alma gentil,
Sabe-o quem o viu e experimentou.
Na hora prima do dia sexto d’Abril,
Em que fui preso a morte me desatou;
Que assi muda fortuna o seu estilo vil.
Quem de dura servidão mais se queixou,
Ou da morte, como eu da liberdade
E da vida, que sem ela me ficou?
Devido era ao mundo e à idade
Não preceder a da véspera ao da prima,
Nem tirar-se-lhe a ele a dignidade.
Qual fosse a sua dor que não se estima
Ousado só a cuidá-lo eu não seria,
Quanto mais a escrevê-lo em prosa ou rima.
Acabada é a virtude e a cortesia
Se ouvia lamentar junto do leito
Pelas donas e amigas que ali havia.
Quem verá mais em dama auto perfeito,
Quem ouvirá seu falar de saber cheio,
E a voz de tão suave deleito?
O espírito, por deixar o doce seio
Com todas as virtudes, anojado,
Fazia em toda a parte o ar sereio.
Nenhum dos adversários foi ousado
De aparecer ali com vista escura,
Até que a morte o assalto houve acabado.
Deposto já o medo e a tristura,
Ao belo rosto cada uma olhava,
Por desesperação feita segura.
Não como chama, que por força acaba,
Mas que por si se gasta e consume,
Se foi dentre nós a que o mundo ornava.
A modo de um suave e claro lume,
A que falta sustância e nutrimento,
a Que no fim tem usado costume;
Mais alva que a neve que sem vento
Em gracioso campo se vê cair,
Estava ela no fim do passamento.
Quase em belos olhos um doce dormir,
Sendo o espírito já partido dela!
Parecia o seu morrer o ressurgir,
E o seu lindo rosto morte bela!

Trionfo della Morte

Quella leggiadra e glorïosa donna,
ch'è oggi ignudo spirto e poca terra
e fu già di valor alta colonna,
tornava con onor da la sua guerra,
allegra, avendo vinto il gran nemico,
che con suo' ingegni tutto 'l mondo atterra,
non con altr'arme che col cor pudico
e d'un bel viso e de' pensieri schivi,
d'un parlar saggio e d'onestate amico.
Era miracol novo a veder ivi
rotte l'arme d'Amore, arco e saette,
e tal morti da lui, tal presi e vivi.
La bella donna e le compagne elette,
tornando da la nobile vittoria,
in un bel drappelletto ivan ristrette.
Poche eran, perché rara è vera gloria;
ma ciascuna per sé parea ben degna
di poema chiarissimo e d'istoria.
Era la lor vittorïosa insegna
in campo verde un candido ermellino,
ch'oro fino e topazi al collo tegna.
Non uman veramente, ma divino
lor andar era e lor sante parole:
beato s'è qual nasce a tal destino.
Stelle chiare pareano; in mezzo, un sole
che tutte ornava e non togliea lor vista;
di rose incoronate e di viole.
E come gentil cor onore acquista,
così venia quella brigata allegra,
quando vidi un'insegna oscura e trista:
et una donna involta in veste negra,
con un furor qual io non so se mai
al tempo de' giganti fusse a Flegra,
si mosse e disse: - O tu, donna, che vai
di gioventute e di bellezze altera,
e di tua vita il termine non sai,
io son colei che sì importuna e fera
chiamata son da voi, e sorda e cieca
gente a cui si fa notte inanzi sera.
Io ho condotto al fin la gente greca
e la troiana, a l'ultimo i Romani,
con la mia spada la qual punge e seca,
e popoli altri barbareschi e strani;
e giugnendo quand'altri non m'aspetta,
ho interrotti mille penser vani.
Or a voi, quando il viver più diletta,
drizzo il mio corso inanzi che Fortuna
nel vostro dolce qualche amaro metta. -
- In costor non hai tu ragione alcuna,
ed in me poca; solo in questa spoglia
(rispose quella che fu nel mondo una).
Altri so che n'avrà più di me doglia,
la cui salute dal mio viver pende;
a me fia grazia che di qui mi scioglia. -
Qual è chi 'n cosa nova gli occhi intende,
e vede ond'al principio non s'accorse,
di ch'or si meraviglia e si riprende,
tal si fe' quella fera, e poi che 'n forse
fu stata un poco: - Ben le riconosco, -
disse - e so quando 'l mio dente le morse. -
Poi col ciglio men torbido e men fosco
disse: - Tu che la bella schiera guidi
pur non sentisti mai del mio tosco.
Se del consiglio mio punto ti fidi,
ché sforzar posso, egli è pur il migliore
fuggir vecchiezza e' suoi molti fastidi.
I' son disposta a farti un tal onore
qual altrui far non soglio, e che tu passi
senza paura e senz'alcun dolore. -
- Come piace al Signor che 'n cielo stassi
et indi regge e tempra l'universo,
farai di me quel che degli altri fassi. -
Così rispose: ed ecco da traverso
piena di morti tutta la campagna,
che comprender nol pò prosa né verso;
da India, dal Cataio, Marrocco e Spagna
el mezzo avea già pieno e le pendici
per molti tempi quella turba magna.
Ivi eran quei che fur detti felici,
pontefici, regnanti, imperadori;
or sono ignudi, miseri e mendici.
U' sono or le ricchezze? u' son gli onori
e le gemme e gli scettri e le corone
e le mitre e i purpurei colori?
Miser chi speme in cosa mortal pone
(ma chi non ve la pone?), e se si trova
a la fine ingannato è ben ragione.
O ciechi, el tanto affaticar che giova?
Tutti tornate a la gran madre antica,
e 'l vostro nome a pena si ritrova.
Pur de le mill' è un'utile fatica,
che non sian tutte vanità palesi?
Chi intende a' vostri studii sì mel dica.
Che vale a soggiogar gli altrui paesi
e tributarie far le genti strane
cogli animi al suo danno sempre accesi?
Dopo l'imprese perigliose e vane,
e col sangue acquistar terre e tesoro,
vie più dolce si trova l'acqua e 'l pane,
e 'l legno e 'l vetro che le gemme e l'oro.
Ma per non seguir più sì lungo tema,
tempo è ch'io torni al mio primo lavoro.
I' dico che giunta era l'ora estrema
di quella breve vita glorïosa,
e 'l dubbio passo di che 'l mondo trema,
et a vederla un'altra valorosa
schiera di donne non dal corpo sciolta,
per saper s'esser pò Morte pietosa.
Quella bella compagna era ivi accolta
pure a vedere e contemplare il fine
che far convensi, e non più d'una volta:
tutte sue amiche e tutte eran vicine.
Allor di quella bionda testa svelse
Morte co la sua mano un aureo crine:
così del mondo il più bel fiore scelse,
non già per odio, ma per dimostrarsi
più chiaramente ne le cose eccelse.
Quanti lamenti lagrimosi sparsi
fur ivi, essendo que' belli occhi asciutti
per ch'io lunga stagion cantai et arsi!
E fra tanti sospiri e tanti lutti
tacita e sola lieta si sedea,
del suo ben viver già cogliendo i frutti.
- Vattene in pace, o vera mortal dea! -
diceano; e tal fu ben, ma non le valse
contra la Morte in sua ragion sì rea.
Che fia de l'altre, se questa arse et alse
in poche notti e sì cangiò più volte?
O umane speranze cieche e false!
Se la terra bagnar lagrime molte
per la pietà di quella alma gentile,
chi 'l vide il sa; tu 'l pensa che l'ascolte.
L'ora prima era, il dì sesto d'aprile,
che già mi strinse, et or, lasso, mi sciolse:
come Fortuna va cangiando stile!
Nessun di servitù giammai si dolse,
né di morte, quant'io di libertate
e de la vita ch'altri non mi tolse.
Debito al mondo e debito a l'etate,
cacciar me innanzi ch'ero giunto in prima,
né a lui torre ancor sua dignitate.
Or qual fusse il dolor qui non si stima,
ch'a pena oso pensarne, non ch'io sia
ardito di parlarne in versi o 'n rima.
- Virtù more, bellezza e leggiadria! -
le belle donne intorno al casto letto
triste diceano - Omai di noi che fia?
chi vedrà mai in donna atto perfetto?
chi udirà il parlar di saver pieno
e 'l canto pien d'angelico diletto? -
Lo spirto, per partir di quel bel seno,
con tutte sue virtuti, in sé romito,
fatto avea in quella parte il ciel sereno.
Nessun degli avversari fu sì ardito
ch'apparisse già mai con vista oscura
fin che Morte il suo assalto ebbe fornito.
Poi che deposto il pianto e la paura
pur al bel volto era ciascuna intenta,
per desperazïon fatta sicura,
non come fiamma che per forza è spenta,
ma che per sé medesma si consume,
se n'andò in pace l'anima contenta,
a guisa d'un soave e chiaro lume
cui nutrimento a poco a poco manca,
tenendo al fine il suo caro costume.
Pallida no, ma più che neve bianca
che senza venti in un bel colle fiocchi,
parea posar come persona stanca.
Quasi un dolce dormir ne' suo' belli occhi,
sendo lo spirto già da lei diviso,
era quel che morir chiaman gli sciocchi:
Morte bella parea nel suo bel viso.

Francesco Petrarca

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Cino

Arre! Já celebrei mulheres em três cidades,
Mas é tudo a mesma coisa;
E cantarei ao sol.

Lábios, palavras, e lhes armamos armadilhas,
Sonhos, palavras, e são como jóias,
Estranhos bruxedos de velha divindade,
Corvos, noites, carícia:
E eis que não o são;
Já se tornaram almas de canção.

Olhos, sonhos, lábios, e a noite vai-se.
Em plena estrada, uma vez mais,
Elas não são.
Esquecidas, em suas torres, de nossa toada,
Uma vez por causa do vento, da revoada
Sonham rumo de nós e
Suspirando dizem, "Ah, se Cino,
Apaixonado Cino, o de olhos enrugados,
Alegre Cino, de riso rápido.
Cino ousado, Cino zombeteiro,
Frágil Cino, o mais forte de seu clã bandoleiro
Que bate as velhas vias sob o sol,
Se Cino do alaúde aqui voltasse!"

Uma vez, duas vezes, um ano -
E vagamente assim se exprimem:
"Cino ?" "Oh, eh, Cino Polnesi
O cantor, não é dele que se trata ?"
"Ah, sim, passou uma vez por aqui,
Sujeito atrevido, mas...
(São todos a mesma coisa, esses vagabundos)
Peste! As canções eram dele ?
Ou cantava as dos outros ?
Mas e o senhor, Meu Senhor, como vai sua cidade ?"

Mas e senhor, "Meu Senhor", bá! por piedade!
E todos os que eu conhecia estavam fora, Meu Senhor, e tu
Eras Cino-Sem-Terra, tal como eu sou,
O Sinistro.

Já celebrei mulheres em três cidades.
Mas é tudo a mesma coisa.
E cantarei do sol.
...eh?... a maioria delas tinha olhos cinzentos,
Mas é tudo a mesma coisa, e cantarei do sol.

"Pollo Phoibeu, panela velha, tu,
Glória da égide do Zeus do dia,
Escudo d'azul aço, o céu lá em cima
Tem por chefe tua rútila alegria!

Pollo Phoibeu, ao longo do caminho,
Faze do teu riso nossa chanson;
Que teu fulgor ofusque nossa dor,
E que o choro da chuva tombe sem som!

Buscando sempre o rastro recente
Rumo aos jardins do sol...
..............................................
Já celebrei mulheres em três cidades
Mas é tudo a mesma coisa.

E cantarei das aves alvas
Nas águas azuis do céu,
As nuvens, o borrifo de seu mar.

Ezra Pound
(tradução de Mário Faustino)

Cino

Bah! I have sung women in three cities,
But it is all the same;
And I will sing of the sun.

Lips, words, and you snare them,
Dreams, words, and they are as jewels,
Strange spells of old deity,
Ravens, nights, allurement:
And they are not;
Having become the souls of song.

Eyes, dreams, lips, and the night goes.
Being upon the road once more,
They are not.
Forgetful in their towers of our tuneing
Once for wind-runeing
They dream us-toward and
Sighing, say, "Would Cino,
Passionate Cino, of the wrinkling eyes,
Gay Cino, of quick laughter,
Cino, of the dare, the jibe.
Frail Cino, strongest of his tribe
That tramp old ways beneath the sun-light,
Would Cino of the Luth were here!"

Once, twice a year---
Vaguely thus word they:

"Cino?" "Oh, eh, Cino Polnesi
The singer is't you mean?"
"Ah yes, passed once our way,
A saucy fellow, but . . .
(Oh they are all one these vagabonds),
Peste! 'tis his own songs?
Or some other's that he sings?
But *you*, My Lord, how with your city?"

My you "My Lord," God's pity!
And all I knew were out, My Lord, you
Were Lack-land Cino, e'en as I am,
O Sinistro.

I have sung women in three cities.
But it is all one.
I will sing of the sun.
. . . eh? . . . they mostly had grey eyes,
But it is all one, I will sing of the sun.

"'Pollo Phoibee, old tin pan, you
Glory to Zeus' aegis-day,
Shield o' steel-blue, th' heaven o'er us
Hath for boss thy lustre gay!

'Pollo Phoibee, to our way-fare
Make thy laugh our wander-lied;
Bid thy 'flugence bear away care.
Cloud and rain-tears pass they fleet!

Seeking e'er the new-laid rast-way
To the gardens of the sun . . .

* * *

I have sung women in theree cities
But it is all one.
I will sing of the white birds
In the blue waters of heaven,
The clouds that are spray to its sea."

Ezra Pound

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Aos que vão nascer

I

Realmente, eu vivo num tempo sombrio.
A inocente palavra é um despropósito. Uma fronte sem ruga
denota insensibilidade. Quem está rindo
é só porque não recebeu ainda
a notícia terrível.

Que tempo é este em que
uma conversa sobre árvores chega a ser falta,
pois implica em silenciar sobre tantos crimes?
Esse que vai cruzando a rua, calmamente,
então já não está ao alcance dos amigos
necessitados?

É verdade: ainda ganho o meu sustento.
Porém, acreditai-me: é puro acaso. Nada
do que faço me dá direito a isso, de comer a fartar-me.
Por acaso me poupam. (Se minha sorte acaba,
estou perdido.)

Dizem-me: — Vai comendo e vai bebendo! Alegra-te
com o que tens!
Mas como hei de comer e beber, se
O que eu como é tirado a quem tem fome, e
meu copo água falta a quem tem sede?
contudo eu como e bebo.

Eu gostaria bem de ser um sábio.
Nos velhos livros consta o que é sabedoria:
manter-se longe das lidas do mundo e o tempo breve
deixar correr sem medo.
Também saber passar sem violência,
pagar o mal com o bem,
os próprios desejos não realizar e sim esquecer,
conta-se como sabedoria.
Não posso nada disso:
realmente, eu vivo num tempo sombrio!

II

As cidades cheguei em tempo de desordem,
com a fome imperando.
Junto aos homens cheguei em tempo
de tumulto
e me rebelei com eles.
Assim passou-se o tempo
que sobre a terra me foi concedido.

Minha comida mastiguei entre refregas.
Para dormir deitei-me entre assassinos.
O amor eu exercia sem cuidado
e olhava sem paciência a natureza.
Assim passou-se o tempo
que sobre a terra me foi concedido.

As ruas do meu tempo iam dar no atoleiro.
A fala denunciava-me ao carrasco.
Bem pouco podia eu, mas os mandões
sem mim sentiam-se mais garantidos, eu esperava.
Assim passou-se o tempo
que sobre a terra me foi concedido.

Minguadas eram as forças. E a meta
ficava a grande distância;
claramente visível, conquanto para mim
difícil de alcançar.
Assim passou-se o tempo
que sobre a terra me foi concedido.

III

Vós, que vireis na crista da maré
em que nos afogamos,
pensai,
quando falardes em nossas fraquezas,
também no tempo sombrio
a que escapastes.

Vínhamos nós então mudando de país mais do que de sapatos,
em meio às lutas de classes, desesperados,
enquanto apenas injustiça havia e revolta nenhuma.

E entretanto sabíamos:
também o ódio à baixeza
endurece as feições,
também a raiva contra a injustiça
torna mais rouca a voz. Ah, e nós,
que pretendíamos preparar o terreno para a amizade,
nem bons amigos nós mesmos pudemos ser.
Mas vós, quando chegar a ocasião
de ser o homem um parceiro para o homem,
pensai em nós
com simpatia.

Bertolt Brecht
Tradução de Geir Campos

An die Nachgeborenen

I

Wirklich, ich lebe in finsteren Zeiten!
Das arglose Wort ist töricht. Eine glatte Stirn
Deutet auf Unempfindlichkeit hin. Der Lachende
Hat die furchtbare Nachricht
Nur noch nicht empfangen.

Was sind das für Zeiten, wo
Ein Gespräch über Bäume fast ein Verbrechen ist
Weil es ein Schweigen über so viele Untaten einschließt!
Der dort ruhig über die Straße geht
Ist wohl nicht mehr erreichbar für seine Freunde
Die in Not sind?

Es ist wahr: ich verdiene noch meinen Unterhalt
Aber glaubt mir: das ist nur ein Zufall. Nichts
Von dem, was ich tue, berechtigt mich dazu, mich sattzuessen.
Zufällig bin ich verschont. (Wenn mein Glück aussetzt, bin ich verloren.)

Man sagt mir: Iß und trink du! Sei froh, daß du hast!
Aber wie kann ich essen und trinken, wenn
Ich den Hungernden entreiße, was ich esse, und
Mein Glas Wasser einem Verdurstenden fehlt?
Und doch esse und trinke ich.

Ich wäre gerne auch weise.
In den alten Büchern steht, was weise ist:
Sich aus dem Streit der Welt halten und die kurze Zeit
Ohne Furcht verbringen
Auch ohne Gewalt auskommen
Böses mit Gutem vergelten
Seine Wünsche nicht erfüllen, sondern vergessen
Gilt für weise.
Alles das kann ich nicht:
Wirklich, ich lebe in finsteren Zeiten!

II

In die Städte kam ich zur Zeit der Unordnung
Als da Hunger herrschte.
Unter die Menschen kam ich zur Zeit des Aufruhrs
Und ich empörte mich mit ihnen.
So verging meine Zeit
Die auf Erden mir gegeben war.

Mein Essen aß ich zwischen den Schlachten
Schlafen legte ich mich unter die Mörder
Der Liebe pflegte ich achtlos
Und die Natur sah ich ohne Geduld.
So verging meine Zeit
Die auf Erden mir gegeben war.

Die Straßen führten in den Sumpf zu meiner Zeit.
Die Sprache verriet mich dem Schlächter.
Ich vermochte nur wenig. Aber die Herrschenden
Saßen ohne mich sicherer, das hoffte ich.
So verging meine Zeit
Die auf Erden mir gegeben war.

Die Kräfte waren gering. Das Ziel
Lag in großer Ferne
Es war deutlich sichtbar, wenn auch für mich
Kaum zu erreichen.
So verging meine Zeit
Die auf Erden mir gegeben war.

III

Ihr, die ihr auftauchen werdet aus der Flut
In der wir untergegangen sind
Gedenkt
Wenn ihr von unseren Schwächen sprecht
Auch der finsteren Zeit
Der ihr entronnen seid.
Gingen wir doch, öfter als die Schuhe die Länder wechselnd
Durch die Kriege der Klassen, verzweifelt
Wenn da nun Unrecht war und keine Empörung.

Dabei wissen wir doch:
Auch der Haß gegen das Unrecht
Macht die Stimme heiser. Ach, wir
Die wir den Boden bereiten wollten für Freundlichkeit
Konnten selber nicht freundlich sein.

Ihr aber, wenn es so weit sein wird
Daß der Mensch dem Menschen ein Helfer ist
Gedenkt unsrer
Mit Nachsicht.

Bertolt Brecht

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Boa noite, boa noite!

Shakespeare
Romeu e Julieta (fala de Julieta no Ato 2, Cena 2)



Boa noite, boa noite! partir é tão doce tristeza,
que eu direi boa noite até que amanheça.

Good night, good night! parting is such sweet sorrow,
That I shall say good night till it be morrow.

Tradução de João Alexandre Sartorelli

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Sonetos Portugueses, 43

Amo-te quanto em largo, alto e profundo
Minh'alma alcança quando, transportada,
Sente, alongando os olhos deste mundo,
Os fins do Ser, a Graça entressonhada.

Amo-te em cada dia, hora e segundo:
A luz do sol, na noite sossegada.
E é tão pura a paixão de que me inundo
Quanto o pudor dos que não pedem nada.

Amo-te com o doer das velhas penas;
Com sorrisos, com lágrimas de prece,
E a fé da minha infância, ingênua e forte.

Amo-te até nas coisas mais pequenas.
Por toda a vida. E, assim Deus o quisesse,
Ainda mais te amarei depois da morte."

Elizabeth Barrett Browning
(tradução de Manuel Bandeira)


Sonnets from the Portuguese, 43

How do I love thee? Let me count the ways...
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of Being and ideal Grace.

I love thee to the level of everyday's
Most quiet need, by sun and candle-light.
I love thee freely, as men strive for Right;
I love thee purely, as they turn from Praise.

I love thee with a passion put to use
In my old griefs, and with my childhood's faith.
I love thee with a love I seemed to lose

With my lost saints, --- I love thee with the breath,
Smiles, tears, of all my life! --- and, if God choose,
I shall but love thee better after death.

Elizabeth Barrett Browning

domingo, 2 de agosto de 2009

Nunca mais

Nunca mais
Caminharás nos caminhos naturais.

Nunca mais te poderás sentir
Invulnerável, real e densa —
Para sempre está perdido
O que mais do que tudo procuraste
A plenitude de cada presença.

E será sempre o mesmo sonho, a mesma ausência.


Obra Poética I, Sophia de Mello Breyner Andresen, Ed. Caminho, 1999

sábado, 1 de agosto de 2009

TU NOMBRE

Nace de mí, de mi sombra,
amanece por mi piel,
alba de luz somnolienta.

Paloma brava tu nombre,
tímida sobre mi hombro.

Octavio Paz