Os gatos
Os amantes febris e os sábios solitários
Amam de modo igual, na idade da razão,
Os doces e orgulhosos gatos da mansão,
Que como eles têm frio e cismam sedentários.
Amigos da volúpia e devotos da ciência,
Buscam eles o horror da treva e dos mistérios;
Tomara-os Érebo por seus corcéis funéreos,
Se a submissão pudera opor-lhes à insolência.
Sonhando eles assumem a nobre atitude
Da esfinge que no além se funde à infinitude,
Como ao sabor de um sonho que jamais
termina;
Os rins em mágicas fagulhas se distendem,
E partículas de ouro, como areia fina,
Suas graves pupilas vagamente acendem.
Les chats
Les amoureux fervents et les savants austères
Aiment également, dans leur mûre saison,
Les chats puissants et doux, orgueil de la
maison,
Qui comme eux sont frileux et comme eux
sédentaires.
Amis de la science et de la volupté
Ils cherchent le silence et l'horreur des
ténèbres ;
L'Erèbe les eût pris pour ses coursiers funèbres,
S'ils pouvaient au servage incliner leur fierté.
Ils prennent en songeant les nobles attitudes
Des grands sphinx allongés au fond des
solitudes,
Qui semblent s'endormir dans un rêve sans fin ;
Leurs reins féconds sont pleins d'étincelles
magiques,
Et des parcelles d'or, ainsi qu'un sable fin,
Etoilent vaguement leurs prunelles mystiques.
BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. Edição biligue. Tadução, introdução e notas de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
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terça-feira, 26 de abril de 2011
segunda-feira, 25 de abril de 2011
ENIGMA DE LA DESEOSA
Muchacha imperfecta busca hombre imperfecto
de 32, exige lectura
de Ovidio, ofrece: a) dos pechos de paloma,
b) toda su piel liviana
para los besos, c) mirada
verde para desafiar el infortunio
de las tormentas;
no va a las casas
ni tiene teléfono, acepta
imantación por pensamiento. No es Venus;
tiene la voracidad de Venus.
Gustavo Rojas (20/12/1917 – 25/04/2011)
de 32, exige lectura
de Ovidio, ofrece: a) dos pechos de paloma,
b) toda su piel liviana
para los besos, c) mirada
verde para desafiar el infortunio
de las tormentas;
no va a las casas
ni tiene teléfono, acepta
imantación por pensamiento. No es Venus;
tiene la voracidad de Venus.
Gustavo Rojas (20/12/1917 – 25/04/2011)
Marcadores:
A arte do encontro,
Espanhol,
Gustavo Rojas,
Sem tradução
quarta-feira, 13 de abril de 2011
Destino do poeta/Destino de poeta
Destino do poeta
Palavras? Sim, de ar
e perdidas no ar.
Deixa que eu me perca entre palavras,
deixa que eu seja o ar entre esses lábios,
um sopro erramundo sem contornos,
breve aroma que no ar se desvanece.
Também a luz em si mesma se perde.
Octavio Paz
Tradução de Haroldo de Campos
Destino de poeta
¿Palabras? Sí, de aire,
y em el aire perdidas.
Déjame que me pierda entre palavras,
déjame ser el aire en unos labios,
un soplo vagabundo sin contornos,
breve aroma que el aire desvanece.
También la luz en sí misma se pierde.
PAZ, Octavio; CAMPOS, Haroldo. Transblanco (em torno a Blanco de Octavio Paz. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.
Palavras? Sim, de ar
e perdidas no ar.
Deixa que eu me perca entre palavras,
deixa que eu seja o ar entre esses lábios,
um sopro erramundo sem contornos,
breve aroma que no ar se desvanece.
Também a luz em si mesma se perde.
Octavio Paz
Tradução de Haroldo de Campos
Destino de poeta
¿Palabras? Sí, de aire,
y em el aire perdidas.
Déjame que me pierda entre palavras,
déjame ser el aire en unos labios,
un soplo vagabundo sin contornos,
breve aroma que el aire desvanece.
También la luz en sí misma se pierde.
PAZ, Octavio; CAMPOS, Haroldo. Transblanco (em torno a Blanco de Octavio Paz. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.
Marcadores:
Espanhol,
O território da poesia,
Octavio Paz,
Tradutor Haroldo de Campos
segunda-feira, 11 de abril de 2011
"Bibliophilie" / "Bibliofilia"
Bibliofilia
O livro velho, tantas vezes lido!
Com furos e fissuras ficou feio
Por uso, mas de súbito está cheio
De vida, ao tato e à vista oferecido.
O livro, que até pouco era defunto,
Ressurge "sem surpresa para o sábio"
Que sabe, ó Transformista de alfarrábio,
O quanto de arte pões no teu assunto.
Jovem de novo, afoito para o afã:
O livro – feito antiga cortesã
Que alguma fada-mãe deixasse virgem;
E, como se escutássemos a voz
Dourada de uma excelsa musa, nós
Relemos, entretidos na vertigem.
Paul Verlaine
tradução de André Vallias
Bibliophilie
Le vieux livre qu’on a lu, relu tant de fois !
Brisé, navré, navrant, fait hideux par l'usage,
Soudain le voici frais, pimpant, jeune visage
Et fin toucher, délice et des yeux et des
doigts.
Ce livre cru bien mort, chose d'ombre et
d'effrois,
Sa résurrection « ne surprend pas le sage ».
Qui sait, ô Relieur, artiste ensemble et mage,
Combien tu fais encore mieux que tu ne dois.
On le reprend, ce livre en sa toute jeunesse,
Comme l’on reprendrait une ancienne
maîtresse
Que quelque fée aurait revirginée au point;
On le relit comme on écouterait la Muse
D'antan, voix d'or qu'éraillait l'âge qui
nous point :
Claire à nouveau, la revoici qui nous amuse.
VERLAINE, Paul. Biblio-Sonetos. Tradução de André Vallias. São Paulo: Selo Demônio Negro, 2010.
O livro velho, tantas vezes lido!
Com furos e fissuras ficou feio
Por uso, mas de súbito está cheio
De vida, ao tato e à vista oferecido.
O livro, que até pouco era defunto,
Ressurge "sem surpresa para o sábio"
Que sabe, ó Transformista de alfarrábio,
O quanto de arte pões no teu assunto.
Jovem de novo, afoito para o afã:
O livro – feito antiga cortesã
Que alguma fada-mãe deixasse virgem;
E, como se escutássemos a voz
Dourada de uma excelsa musa, nós
Relemos, entretidos na vertigem.
Paul Verlaine
tradução de André Vallias
Bibliophilie
Le vieux livre qu’on a lu, relu tant de fois !
Brisé, navré, navrant, fait hideux par l'usage,
Soudain le voici frais, pimpant, jeune visage
Et fin toucher, délice et des yeux et des
doigts.
Ce livre cru bien mort, chose d'ombre et
d'effrois,
Sa résurrection « ne surprend pas le sage ».
Qui sait, ô Relieur, artiste ensemble et mage,
Combien tu fais encore mieux que tu ne dois.
On le reprend, ce livre en sa toute jeunesse,
Comme l’on reprendrait une ancienne
maîtresse
Que quelque fée aurait revirginée au point;
On le relit comme on écouterait la Muse
D'antan, voix d'or qu'éraillait l'âge qui
nous point :
Claire à nouveau, la revoici qui nous amuse.
VERLAINE, Paul. Biblio-Sonetos. Tradução de André Vallias. São Paulo: Selo Demônio Negro, 2010.
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Francês,
O espaço ao redor e além,
Soneto,
Tradutor André Vallias,
Verlaine
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