sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Quanto, quanto me queres? — perguntaste

Quanto, quanto me queres? — perguntaste
Numa voz de lamento diluída;
E quando nos meus olhos demoraste
A luz dos teus senti a luz da vida.

Nas tuas mãos as minhas apertaste;
Lá fora da luz do Sol já combalida
Era um sorriso aberto num contraste
Com a sombra da posse proibida...

Beijámo-nos, então, a latejar
No infinito e pálido vaivém
Dos corpos que se entregam sem pensar...

Não perguntes, não sei — não sei dizer:
Um grande amor só se avalia bem
Depois de se perder.


BOTTO, António. As canções de António Botto. Lisboa: Presença, 1999.

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