1
enquanto ele tocava complicados cappricios em frente de uma auditório escurecido,
ninguém reparou que a sua face ardia e das suas omoplatas uma sombra negra emergia.
e depois ele estacou à chuva enfrentando caras que eram mãos franzidas.
e então nós? perguntaste e logo eu tentei pôr ordem nas coisas,
coisas que se dispersavam por todo o lado na vazante da linguagem.
o que resta quando acertamos as contas com a solidão de anos?
quem habita os nossos quartos quando nós os abandonamos?
e tu? tens algum segredo escondido na manga?
sobre a chave branca como a parte visível do icebergue;
sobre o silêncio que rasga colchões em pedaços.
mais tarde nessa noite, resultados, jornais e cadeiras – tudo espalhado no chão do quarto
cobrindo as passagens, ligando a mais escura das profundidades.
eu sei, todas as noites baixavas a tua cara
dentro dessa mina de pedra.
2
somos convidados para uma festa calma, lavando a loiça,
arrumando as pratas em caixas cobertas com veludo,
quando as cadeiras já foram levantadas para cima das mesas e as constelações já se extinguiram.
aqui estamos, dois vagabundos a tentar habitar os corações.
eu, um pianista louco, tu, uma criada neste mistério das coisas.
Arvis Viguls
Tradução de Luís Filipe Cristóvão
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