sábado, 13 de abril de 2013

A Edom!


A Edom!*

Há dois milênios já perdura
A convivência tão fraterna –
Quando eu respiro, tu me aturas,
Se te enraiveces, eu tolero.

Algumas vezes, convenhamos,
Cruzaste as raias do mau gosto,
As santas unhas mergulhando
Na tinta rubra do meu corpo!

Nossa amizade agora cresce
A cada dia e nunca para;
Virei alguém que se enraivece,
Estou ficando a tua cara.



An Edom!*

Ein Jahrtausend schon und länger,
Dulden wir uns brüderlich,
Du, du duldest, daß ich atme,
Dass du rasest, dulde Ich. 

Manchmal nur, in dunkeln Zeiten,
Ward dir wunderlich zu Mut,
Und die liebefrommen Tätzchen
Färbtest du mit meinem Blut! 

Jetzt wird unsre Freundschaft fester,
Und noch täglich nimmt sie zu;
Denn ich selbst begann zu rasen,
Und ich werde fast wie Du.

[1824]


*Edom: do hebraico = 'vermelho'; nome dado a Esaú e ao povo que dele descende; por extensão, aplicado às nações inimigas de Israel [nota de André Vallias]. 






VALLIAS, André. Heine hein? Poeta dos contrários. São Paulo: Perspectiva, 2011 (no prelo).

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