sexta-feira, 23 de outubro de 2020

E o teu vestido é branco

 Tens a cabeça baixa e me olhas:

e o teu vestido é branco,

e um seio aflora de entre as rendas

soltas do teu ombro esquerdo.


A luz me supera; treme,

e te toca os braços nus.


Revejo-te. Tinhas

palavras poucas e breves,

que punham alma

no peso de uma vida

que sabia a circo.


Profunda era a estrada

por onde o vento descia

certas noites de inverno,

e nos despertava estranhos


Salvatore Quasimodo

Tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti


Piegato hai il capo e mi guardi;

e la tua veste è bianca,

e un seno affiora dalla trina

sciolta sull’omero sinistro.


Mi supera la luce; trema,

e tocca le tue braccia nude.Ti rivedo. Parole

avevi chiuse e rapide,

che mettevano cuore

nel peso d’una vita

che sapeva di circo.Profonda la strada

su cui scendeva il vento

certe notti di marzo,

e ci svegliava ignoti

come la prima volta.


Salvatore Quasimodo

segunda-feira, 18 de maio de 2020

ÁGUA ÁGUA 

Menina sublunar, afogada,
que voz de prata te embala
toda desfolhada?

Tendo como um só adorno
o anel de seus vestidos,
ela própria é quem se encanta
numa canção de acalanto
presa ainda na garganta.

Olga Savary