O tempo vive, quando os homens, nele,
se esquecem de si mesmos,
ficando, embora, a contemplar o estreme
reduto de estar sendo.
O tempo vive a refrescar a sede
dos animais e do vento,
quando a estrutura estremece
a dura escuridão que, desde dentro,
irrompe. E fica com o uivo agreste
espantando o seu estrondo de silêncio.
Fernando Echevarría, in "Sobre os Mortos"
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quarta-feira, 26 de março de 2014
domingo, 23 de março de 2014
É por Ti que Vivo
Amo o teu túmido candor de astro
a tua pura integridade delicada
a tua permanente adolescência de segredo
a tua fragilidade acesa sempre altiva
Por ti eu sou a leve segurança
de um peito que pulsa e canta a sua chama
que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro
ou à chuva das tuas pétalas de prata
Se guardo algum tesouro não o prendo
porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto
que dure e flua nas tuas veias lentas
e seja um perfume ou um beijo um suspiro solar
Ofereço-te esta frágil flor esta pedra de chuva
para que sintas a verde frescura
de um pomar de brancas cortesias
porque é por ti que vivo é por ti que nasço
porque amo o ouro vivo do teu rosto
António Ramos Rosa, in 'O Teu Rosto'
a tua pura integridade delicada
a tua permanente adolescência de segredo
a tua fragilidade acesa sempre altiva
Por ti eu sou a leve segurança
de um peito que pulsa e canta a sua chama
que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro
ou à chuva das tuas pétalas de prata
Se guardo algum tesouro não o prendo
porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto
que dure e flua nas tuas veias lentas
e seja um perfume ou um beijo um suspiro solar
Ofereço-te esta frágil flor esta pedra de chuva
para que sintas a verde frescura
de um pomar de brancas cortesias
porque é por ti que vivo é por ti que nasço
porque amo o ouro vivo do teu rosto
António Ramos Rosa, in 'O Teu Rosto'
Marcadores:
A arte do encontro,
António Ramos Rosa,
Português
terça-feira, 18 de março de 2014
Sobre Roma
Sobre Roma
Recém-chegado que, buscando Roma em Roma,
não encontras, em Roma, Roma alguma,
olha, ao redor, muro e mais muro, pedras rotas,
ruínas, que assustam, de um teatro imenso:
é Roma isto que vês – cidade tão soberba,
que ainda exala ameaças seu cadáver.
Vencido o mundo, quis vencer-se e, se vencendo,
para que nada mais seguisse invicto,
jaz, na vencida Roma, Roma, a vencedora,
pois Roma é quem venceu e foi vencida.
Só resta, indício do que já foi Roma, o Tibre:
corrente rápida que corre ao mar.
Assim age a Fortuna: o que há de firme passa
e o que sempre se move permanece.
JANUS VITALIS
De Roma
Qui Romam in media quaeris nouus adueña Roma,
Et Romae in Roma nil reperis media,
Aspice murorum moles, praeruptaque saxa,
Obrutaque horrenti uasta theatra situ:
Haec sunt Roma: uiden uelut ipsa cadauera tantae
Vrbis adhuc spirent imperiosa minas?
Vicit ut haec mundum, nisa est se uincere: uicit,
A se non uictum ne quid in orbe foret.
Nunc uicta in Roma uictrix Roma illa sepulta est?
At que eadem uictrix, uictaque Roma fuit.
Albula Romani restat nunc nominis index,
Qui quoque nunc rapidis fertur in aequor aquis.
Disce hinc quid possit fortuna: immota labascunt,
Et quae perpetuo sunt agitata manent.
JANUS VITALIS. "De Roma". In: ASCHER, Nelson. Poesia alheia. Rio de Janeiro: Imago, 1998.
Recém-chegado que, buscando Roma em Roma,
não encontras, em Roma, Roma alguma,
olha, ao redor, muro e mais muro, pedras rotas,
ruínas, que assustam, de um teatro imenso:
é Roma isto que vês – cidade tão soberba,
que ainda exala ameaças seu cadáver.
Vencido o mundo, quis vencer-se e, se vencendo,
para que nada mais seguisse invicto,
jaz, na vencida Roma, Roma, a vencedora,
pois Roma é quem venceu e foi vencida.
Só resta, indício do que já foi Roma, o Tibre:
corrente rápida que corre ao mar.
Assim age a Fortuna: o que há de firme passa
e o que sempre se move permanece.
JANUS VITALIS
De Roma
Qui Romam in media quaeris nouus adueña Roma,
Et Romae in Roma nil reperis media,
Aspice murorum moles, praeruptaque saxa,
Obrutaque horrenti uasta theatra situ:
Haec sunt Roma: uiden uelut ipsa cadauera tantae
Vrbis adhuc spirent imperiosa minas?
Vicit ut haec mundum, nisa est se uincere: uicit,
A se non uictum ne quid in orbe foret.
Nunc uicta in Roma uictrix Roma illa sepulta est?
At que eadem uictrix, uictaque Roma fuit.
Albula Romani restat nunc nominis index,
Qui quoque nunc rapidis fertur in aequor aquis.
Disce hinc quid possit fortuna: immota labascunt,
Et quae perpetuo sunt agitata manent.
JANUS VITALIS. "De Roma". In: ASCHER, Nelson. Poesia alheia. Rio de Janeiro: Imago, 1998.
Marcadores:
Janus Vitalis,
Latim,
O espaço ao redor e além,
Tradutor Nelson Ascher
quinta-feira, 13 de março de 2014
Às vezes, em Tardes de Inverno
Às vezes, em Tardes de Inverno,
Uma Luz Enviesada —
Como o Som das Catedrais
Opressora, Pesada —
Nos fere com Dor Divina —
Porém cicatriz não fica
Senão no fundo de nós,
Onde o Sentido habita —
É o Selo do Desespero —
A ele — Nada lhe Falta —
Angústia imperial
Que nos desce do alto
Quando vem, a Terra atenta —
Sombras — param no ar —
Quando vai, é como a Morte
Ao Longe, a se afastar —
(Emily Dickinson, tradução de Paulo Henriques Britto)
There’s a certain Slant of light,
Winter Afternoons —
That oppresses, like the Heft
Of Cathedral Tunes —
Heavenly Hurt, it gives us —
We can find no scar,
But internal difference,
Where the Meanings, are —
None may teach it — Any —
‘Tis the Seal Despair —
An imperial affliction
Sent us of the Air —
When it comes, the Landscape listens —
Shadows — hold their breath —
When it goes, ‘tis like the Distance
On the look of Death —
Emily Dickinson
Uma Luz Enviesada —
Como o Som das Catedrais
Opressora, Pesada —
Nos fere com Dor Divina —
Porém cicatriz não fica
Senão no fundo de nós,
Onde o Sentido habita —
É o Selo do Desespero —
A ele — Nada lhe Falta —
Angústia imperial
Que nos desce do alto
Quando vem, a Terra atenta —
Sombras — param no ar —
Quando vai, é como a Morte
Ao Longe, a se afastar —
(Emily Dickinson, tradução de Paulo Henriques Britto)
There’s a certain Slant of light,
Winter Afternoons —
That oppresses, like the Heft
Of Cathedral Tunes —
Heavenly Hurt, it gives us —
We can find no scar,
But internal difference,
Where the Meanings, are —
None may teach it — Any —
‘Tis the Seal Despair —
An imperial affliction
Sent us of the Air —
When it comes, the Landscape listens —
Shadows — hold their breath —
When it goes, ‘tis like the Distance
On the look of Death —
Emily Dickinson
Marcadores:
Emily Dickinson,
Inglês,
O espaço interior,
Tradutor Paulo Henriques Britto
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